O Brasil roda no WhatsApp. E a sua comunicação política também?
- Estratégia Parlamentar
- 2 de jun.
- 6 min de leitura

Recentemente, vi um post no Threads que me fez pensar ao afirmar que "O Brasil roda no WhatsApp". É só olhar para a sua própria realidade.
Eu mesma, falo com clientes, organizo as ações com a minha equipe, marco consultas, interajo com lojas que comprei, falo com amigos, mantenho o contato com a família, tudo pelo Whats.
Por isso, acredito que a frase “O Brasil roda no WhatsApp” que vi no post do Threads captura uma realidade muito forte: para milhões de brasileiros, o WhatsApp deixou de ser apenas um meio de troca de mensagens para se tornar uma verdadeira infraestrutura central de operação do cotidiano.
Do cabeleireiro ao contador, da consulta médica ao grupo da escola, tudo acontece ali. E na política, não é diferente. Com 9 em cada 10 brasileiros abrindo o app diariamente e mais de um terço mantendo-o aberto o tempo todo, ignorar essa plataforma é desconectar-se da própria sociedade.
Mas se o WhatsApp é a infraestrutura do dia a dia, como nós, profissionais da política podemos e devemos utilizá-lo para ter mais resultados?
Como transformar essa ferramenta onipresente no celular dos brasileiros em pontes reais de diálogo e confiança?
A resposta vai além da simples presença digital. O WhatsApp para funcionar na política brasileira deve ir além da comunicação superficial, o que exige planejamento, personalização, escuta ativa e, acima de tudo, ética para gerar resultados sustentáveis e fortalecer a relação com a base.
Mas para que isso aconteça é preciso superar o receio de usar o WhatsApp apenas como um canal para que as pessoas só peçam coisas e enxergar o potencial que ele tem de ser uma via de mão dupla. O desafio é sair da lógica da visão de que WhatsApp para políticos é só assistencialismo e começar a usar o app para construir uma comunicação que informe, aproxime e preste contas.
Quando bem usado, o WhatsApp deixa de ser um espaço só de solicitações e vira uma ferramenta para mostrar o trabalho do político de forma clara, direta e constante gerando mais reconhecimento, vínculo e confiança com quem realmente importa: a sua base.
O WhatsApp como "sistema operacional" da vida prática
Tendo trazido essa visão, agora quero que você pense no WhatsApp não como um aplicativo, mas como um sistema operacional da vida prática, incluindo a interação política.
Tarefas que antes demandavam telefonemas, e-mails ou visitas presenciais hoje fluem pelo aplicativo de mensagens: marcar um horário no gabinete, enviar a foto de um buraco na rua para o vereador, mobilizar rapidamente um grupo de apoiadores para um evento, receber demandas específicas de uma comunidade são apenas algumas possibilidades de integração da política na vida prática do cidadão por meio do Whats que é um canal direto, eficiente e presente onde o cidadão já está.
Ninguém aguenta mais disparo em massa
Mas nem tudo são flores no zap. A facilidade de envio de mensagens, traz uma tentação perigosa: o disparo em massa indiscriminado que me causa pavor só de pensar. Além de proibida pela Justiça Eleitoral em muitos contextos, essa prática é malvista pela maioria dos usuários.
Basta olhar para a sua própria realidade, ao revirar os olhos excluindo mensagens de promoções ou contatos que você não solicitou.
Uma pesquisa da Opinion Box (2024) apontou que que 82% dos entrevistados já receberam mensagens de empresas com as quais nunca falaram, e a maioria não gosta. Agora imagine isso na política.
É claro que se a gente pensar muito, paralisa e a solução não é o silêncio, mas a estratégia.
Profissionalizar o uso do WhatsApp é o primeiro passo e isso começa com algo simples, mas que muita gente ainda ignora: ter um número exclusivo para o mandato e tratá-lo como o que ele realmente é: um canal oficial de comunicação.
E como todo canal, precisa ser tratado com estrutura, rotina e objetivos bem definidos. Não dá mais para usar o WhatsApp de forma improvisada, como se fosse só uma tentativa para dar certo. Se quiser resultado, precisa ter método.
O segundo passo é a segmentação inteligente, gosto muito de manter controle da comunicação, porque evita problemas dos quais eu não precisaria lidar se tivesse pensado nisso antes.
E justamente por isso, ao trabalhar com o WhatsApp tendo o objetivo de crescimento de base, gosto do sistema de listas, que apesar de demandar maior dedicação tanto na organização dos contatos, quanto no convencimento para as pessoas salvar o número, traz algo que outros formatos não trazem: a sensação de uma conversa direta, próxima e individual.
Separe contatos por bairro, tema de interesse ou nível de engajamento, sempre com consentimento prévio e dando total autonomia para que a pessoa possa sair quando quiser da sua lista (respeitando a LGPD), porque isso é importante e te traz a segurança de uma atuação feita dentro do que determina a lei.
Tendo listas segmentadas, fica fácil de direcionar mensagens para quem realmente vai se interessar por ela. Reforço mais uma vez, criar e segmentar listas não é um trabalho fácil, mas quando bem feito tem bom retorno sem potencial de desgaste da imagem do político.
Tive minha primeira experiência com a criação de listas em 2019 para um deputado estadual do Paraná, hoje prefeito da segunda maior cidade do estado e desde lá, vendo o potencial e resultados das listas, insisto na estratégia já apontando que o segredo está na constância, coisa que nem todo mundo está disposto a fazer.
Com listas segmentadas, a comunicação sobre uma reunião de segurança pública vai para os moradores daquela região, enquanto o convite para um debate sobre educação chega aos interessados no tema de forma quase que personalizada!
Essa visão transforma o app de um megafone para uma ferramenta de diálogo direcionado, algo que em tempos de engajamento, disputa pela atenção e inteligência artificial, é um grande diferencial.
As pessoas estão dispostas ouvir, mas também querem falar
Como já falei antes, o maior erro é tratar o WhatsApp como via de mão única, um canal apenas para falar. Sua verdadeira força na política reside também na capacidade de ouvir.
Por isso, você precisa encontrar possibilidades no aplicativo entender sobre as prioridades locais, abrir espaço para perguntas antes de uma sessão na Câmara, pedir feedback sobre um projeto de lei e não apenas ficar divulgando link de post no Instagram esperando que isso possa aumentar o número de curtidas, isso é muito 2020.
O status do WhatsApp é outro recurso com grande potencial, mas que ainda é pouco explorado. Ele pode funcionar como um termômetro para testar conteúdos, gerar interação e manter presença sem depender do envio direto de mensagens.
E se você ainda acha que o brasileiro não vê status, talvez seja hora de rever esse pensamento. Muita gente acompanha, comenta e até se informa por ali principalmente quando o conteúdo é direto, relevante e frequente. E se você pensar em “ações casadas” a coisa pode ficar ainda mais interessante.
Imagine um mandato que usa listas segmentadas para perguntar sobre as prioridades de um bairro e, semanas depois, compartilha via status ou mensagem direta os resultados e as ações iniciadas a partir daquele feedback. Isso demonstra que a opinião foi ouvida e valorizada.
Além da escuta, a transparência é outro fator a se pensar. O WhatsApp é um excelente canal para prestar contas de forma rápida e acessível. Compartilhe resumos das pautas votadas, links para documentos oficiais, o status de andamento de uma solicitação.
Em um ambiente digital propenso a boatos e fake news, fornecer informação direta e verificável pelo canal que o cidadão mais usa é uma forma boa forma de construir e manter a credibilidade.
Nem tudo são flores: desafios éticos e práticos
Apesar de todo o potencial que apresentei, preciso te alertar que o uso político do WhatsApp não é isento de desafios.
A disseminação de fake news é um risco constante, exigindo responsabilidade. O spam e a comunicação não autorizada são outro problema grave, podendo gerar irritação e denúncias, minando a confiança.
A impessoalidade também é uma armadilha. Embora respostas automáticas ajudem na agilidade inicial, pode afastar, ou gerar apatia ao invés de aproximar. É preciso encontrar um equilíbrio, não sou contra automação.
Eu mesma uso em minhas listas, mas o que faço é usar a automação para o primeiro contato ou fora do horário, seguido de um acompanhamento humano e personalizado sempre que a situação exige.
Sim, o Brasil roda no WhatsApp e a política também
E como disse no início texto, sim, o Brasil roda no WhatsApp. E a política também. Mas o sucesso no uso dessa infraestrutura invisível não depende apenas de estar presente, mas de como estar presente.
É preciso estratégia para segmentar e personalizar, ética para respeitar a privacidade e combater a desinformação, disposição para ouvir tanto quanto para falar e organização para transformar o fluxo de mensagens em diálogo útil e ações concretas.
Trabalhar essa ferramenta com inteligência ajuda a construir e fortalecer laços com as pessoas.
No fim das contas, quem entende o WhatsApp como uma extensão da vida e não só como mais um canal consegue algo raro: estar presente de verdade no cotidiano das pessoas. Não se trata de automatizar respostas ou disparar mensagens em massa, mas de usar esse espaço com intenção, presença e responsabilidade.
Porque política que se faz perto, escutando e falando com clareza, tem muito mais chance de ser percebida, lembrada e defendida.
Pense nisso!
Um abraço, Gisele Meter.